O histórico de lutas e conquistas das mulheres na aviação foi relembrado para as trabalhadoras na quarta-feira(5), durante o Seminário promovido pela FENTAC, em Guarulhos (SP).
A dirigente do Sindicato Nacional dos Aeroviários e secretária de finanças da Federação, Selma Balbino, e a porta-voz da FENTAC, Graziella Baggio, fizeram um rico apanhado sobre o empoderamento das mulheres na aviação.
Selma destacou que algumas conquistas só foram possíveis no grito. “A aviação, que tem origem militar, é bem burguesa e vive bastante de aparências. Mas no dia a dia, só quem trabalha sabe que é um massacre continuo e constante.”, salienta.
A sindicalista lembrou que nos meados dos anos 1980, que a categoria começou efetivamente a se mobilizar. “Temos travado batalhas com as empresas aéreas desde antes da ditadura militar. Mas com o fim do regime, demos um salto de qualidade e retomamos o enfrentamento com o patronal com grande greves dos aeronautas e aeroviários. Na greve de 1988, por exemplo, garantimos a licença-maternidade, a garantia de trabalho à gestante. Foi uma greve histórica, longa, desgastante, mas trouxe conquistas maravilhosas para as trabalhadoras”.
Grazi e Selma – foto: Dino Santos/Mídia Consulte
Preconceito e superação
A dirigente contou também sobre o preconceito quando começou no movimento sindical e relembrou que a jornada para assumir um cargo no Sindicato não foi nada fácil.
“Concorri na base e enfrentei vários problemas por ser mulher e negra. Muitos me perguntavam: você é candidata a presidente do Sindicato? Só pode estar de brincadeira. Eu era a única mulher na chapa do sindicato fui eleita presidente, e depois tentaram dar golpe. Vivi dois anos angustiantes até os golpistas irem embora. Na minha época conseguimos abrir uma janela para as mulheres serem representadas na aviação. Hoje, temos 12 mulheres na direção do Sindicato Nacional dos Aeroviários. É difícil, sempre nos colocam em teste a nossa capacidade e, se der mole, puxam o nosso tapete”, frisa.
Selma contou que recebia apelidos machistas por ser mulher, mas não se intimidou, “ Já me chamaram de “general de saia”. Pode dar o nome que for, o importante é não desistir e saber qual é o seu papel”, ressalta.
A sindicalista ressaltou também que o Sindicato Nacional dos Aeroviários se filiou à CUT em 1989 e isso representa um orgulho muito grande.
Já em sua fala, a aeronauta aposentada e porta-voz da FENTAC, Graziella Baggio, falou da sua trajetória como comissária de voo na Vasp e presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas.
“Fui a primeira comissária presidente do Sindicato. Atualmente, o sindicato tem 42 homens e apenas uma mulher na direção. Na aviação, por ser uma cultura militar, os homens são bem machistas. Nós, mulheres, sofremos discriminação e humilhação, mas temos que ser fortes para seguir na luta”, pontua Graziella.
Grazi e Selma – foto: Dino Santos/Mídia Consulte
Formação e conquistas
A aeroviária Selma destacou a importância da formação nas bases. “O movimento sindical tem que voltar a formar com qualidade, desta maneira, poderemos fazer a disputa com o capital”, alerta.
A sindicalista mencionou as conquistas para as trabalhadoras, como auxílio creche, seis meses de licença maternidade e duas horas de direito à amamentação “São pequenas, mas são valiosas”, salienta.
Selma reforçou que agora a luta é para garantir o auxílio maquiagem para as aeroviárias. “Para manter a aparência é preciso ter dinheiro. Não se faz as unhas, cabelo com menos de 50 reais. Muitas empresas exigem unhas padronizadas, e as mulheres negras não podem exibir sua beleza exuberante, como o cabelo, por causa desse patrão de exigência. Além disso, uma boa maquiagem também custa caro e essa exigência da empresa sai do bolso da trabalhadora”, frisa.
Sobre a regulamentação dos aeronautas, Graziella se orgulha em dizer que é bastante moderna, graças à luta da categoria. “A greve de 1985 dos aeronautas garantiu as acomodações individuais para a categoria, que antes era apenas para pilotos e copilotos. Já a greve dos comissários da Vasp em 1986, que teve duração de 19 dias, garantiu para toda a categoria o dissídio daquele ano, o pagamento de horas noturnas em dobro e o sábado e domingo noturna em triplo . Hoje a categoria de aeronautas luta por uma regulamentação profissional mais humana e por mais folgas mensais”, relata.
União
Graziella reforçou que é preciso que as categorias aeronautas e aeroviários se unam na luta. “Temos que criar um ambiente melhor de diálogo entre os trabalhadores na aviação para avançarmos nas lutas”, enfatiza.
Já Selma concluiu destacando que é importante relembrar o sentido da palavra companheiro. “Só assim conquistaremos mentes e corações”.